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Além do que, creio, ficou patente quanto ao valor literário da poesia de Virgínia do Carmo, gostaria de referir pormenores que me não passaram desapercebidos. Falo da riqueza vocabular por vezes conseguida pela inusitada adjectivação (liquidez inabraçável do mar; gritos angulares; um anseio vertical; flores acéfalas; aresta áspera e estrídula) pelo recurso a termos eruditos (atérmico, admonição; disfásicas; assíncronos; ambular), pela pluralidade de léxicos relativos a áreas do saber convocadas como a geologia, a geografia, a psicologia e a filosofia, a física e a química e, sobretudo, a geometria. Não se trata de intromissões abusivas e arbitrárias, antes surgem como elementos de clarificação de ideias:

Perdi […] a triangulação das estrelas e a síntese química das pedras;
…na rota recta dos/ olhos, na planura esguia dos ângulos do tempo // [obtusos demais];
…Não tenho ângulos para / medir a congruência dos passos.

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Hercília Agarez

 

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Não é difícil percebermos o que a autora procura, porque ela própria nos diz, na p. 30: Preciso perdoar-me. Para correr e ser de novo a criança que pulava todos os muros. Sem a medida dos passos. Sem o cálculo dos ângulos. E ser de novo o acaso feliz de acreditar. As asas invisíveis de um crer maior […]. Recuperar a inocência é essa forma de ter asas invisíveis para voar sobre o abismo acreditando que a redenção está dentro dela.

Vamos, então, nesta viagem de emoções onde cada escolha pode ser imaginária ou real, onde podemos esbarrar no relevo da linguagem, onde cada expressão nos surpreende, nos inquieta, ou nos comove, porque este livro é, essencialmente, um estado de espírito que podemos analisar e percorrer em todas as direcções.

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Graça Pires 

E tudo o que acontece neste livro é uma expressão poética absorvente, uma Poesia do “Eu”, logo, intimamente comprometida com os sentidos, os silêncios e as vozes que os habitam.
No plano temático sobressai o lirismo de um “eu” existencial que, confrontado com a irregularidade do “mapa topográfico” que, em sentido figurado, representa da vida, deixa a nu estados de espírito, sensações, emoções, dúvidas, anseios... Emerge o conflito entre matéria e espírito […] preciso de gestos, não de orações […], (p. 22), mas também a angústia e a sublimação do amor, o sentido da perda, a condição da mulher, à luz da tradição conservadora dos meios rurais. […] Cansada de calcar a ternura em gavetas / que já não fecham […] (p.10), […] Quase todas se vergam em sacrifícios estabelecidos e genuflexões mecânicas […] (p.67)

Lídia Borges