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Para desviar as atenções sobre as suas negociatas, um madeireiro da região de Basto, serviu-se de uma crendice incipiente que atribuía benéficos poderes espirituais aos gases das fossas. Transformou-a numa doutrina, que depressa começou a ser professada por multidões.
Um professor de música, na Noruega, comunicou à polícia que dois homens esfarrapados andavam à pancada, numa praia que ladeava a estrada por onde passava. Soube depois que lutavam pela posse de um frasco de vidro, hermeticamente fechado. Frasco que não tinha nada no seu interior, a não se ar. O insólito episódio fez com que o professor viesse a saber que tinha ocorrido um naufrágio. Depois descobriu que na embarcação havia um tripulante clandestino. E com o propósito de colher matéria para escrever um romance sensacional, foi no seu encalço. Até que os separatistas da ETA o dissuadiram da ideia.
No barco de pesca ao bacalhau ia mesmo um tripulante clandestino, que ali se escondia das autoridades do Estado espanhol. Apossou-se dos dados identificativos de um pobre e órfão pescador português que morreu no acidente, e veio para Portugal, fazendo-se passa por ele, para aqui adquirir documentos legais, e com eles deixar de ser o cidadão que as polícias espanholas procuravam. O padre local viu nele as condições ideais para fazer frente aos hereges dos frascos que, enganados, julgavam conter metano.
O madeireiro não gostou da intromissão do nórdico nos seus particulares assuntos. Até que ordenou ao seu capataz que lhe pregasse um susto de morte.
O refugiado basco – no papel do português morto no naufrágio – conseguiu maneira de dar um magistral golpe na fortuna que, ilicitamente, o cacique das madeiras tinha acumulado. E porque o seu esquema teve de iniciar-se no local para onde haviam atraído o “investigador” norueguês, viu-se na obrigação de o pôr a salvo e o levar na fuga que tinha planeado. Viajaram até ao meio da Europa por vias esconsas. Sem que o nórdico alguma vez tivesse suspeitado que fora salvo pelo refugiado que perseguira ao longo de mais de 3.000 quilómetros. E sem que o basco suspeitasse que levava ao seu lado quem muito afincadamente o perseguira.
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"Há laivos de romance policial nas investigações sobre os frascos de metano.
O narrador convida-nos a fruir o caminho esotérico do frasquinho, ou dos frasquinhos que alumiam a alma dos néscios e dos bem-aventurados, presenteando-nos com o nada escatológico contido nos frascos. Oposição entre fé e racionalidade, entre seriedade e pantominice, entre ganância e pobreza, até à promiscuidade da religião com o dinheiro."
Manuel António Araújo, Escritor
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J. B. CÉSAR É natural de Chaves e nasceu em 1955.
Foi o fundador e director da rádio Antena Radiante, do Jornal de Chaves e do Semanário Transmontano.
Como jornalista profissional, foi colaborador do Jornal de Notícias, do Comércio do Porto e do diário “La Región”, de Ourense (Galiza).
Em 2013 publicou o seu primeiro romance, intitulado “Claro que não, antes pelo contrário”.
Em 2018, o seu livro Custa a verdade abdicar dos bifes (Poética Edições, 2022) foi o vencedor do Prémio Literário Bento da Cruz.
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Edição: novembro de 2024 | Páginas: 244 | Encadernação: capa mole com badanas | Formato: 15cmx23cm | ISBN: 978-989-9241-01-5