*
Com ilustrações de Luís Silveirinha
*
"Queremos ser maiores do que o cabo que nos deu a vida, mas ouvindo a música dela nasce a repreensão, e por isso temos o dever de ficar calados, e respeitar o mais importante, saber dizer que algo existe, mas ao mesmo tempo pensar no respeito que isso nos deu. Largar o medo, deixar tudo para trás, e depois novamente deliciarmo-nos com tudo o que deveríamos ter feito no Passado."
[Do preâmbulo]
__
A história:
Um homem enforcou-se,
A rua descobriu,
Chegaram e contaram a toda gente.
A morte tornou-se vaidosa.
Pediu autógrafos.
No funeral as velhas comentavam
Dizendo que a delas também estava próxima
Usavam palavras para comunicar umas com as outras:
As citações das palavras perto de corpo dos vivos são perigosas
As palavras com amor, as palavras com revolução: são palavras de manifestação.
A morte do outro,
Passou de boca em boca pela rua inteira
Dentro de nós existem as palavras com balas
Perseguem-nos durante a noite.
O homem antes de se enformar.
Ouviu a badalada na Igreja
Pendurou-se na árvore
Chorou pelos filhos.
Desistiu, e morreu.
Infeliz na sua
Infelicidade.
Fim
Toda
A
Gente
Soube
(p. 21)
_________
Miguel Leonardo (n. Pragal, 1996), é escritor, poeta, ensaísta, músico, ator e guionista. Com apenas 16 anos fundou, com Luís Oliveira, o Movimento ULTRA Abjeccionista, e com 25 lançou a sua primeira curta-metragem, O rapaz que pensava demais.
O presente livro é o seu segundo título publicado, depois de A voz de Lisboa com Paris (Gato Bravo, 2023).
-
Edição: Dezembro de 2023 | ISBN: 978-989-9070-76-9 | Páginas: 100 | Ilustrado | Encadernação: capa mole | Formato: 12cmx22cm