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Que saudade ou coragem é preciso ter para deixar a terra quente e colorida do seu nascimento, Brasil, e vir desaguar a terras lusas em cidades de luz e sombra, branco e preto? Deixar o samba e a sua liberdade do corpo mulher e vir aqui tecer o seu fado triste, vestida de negro??
Que amor ou que paixão da língua portuguesa e das suas paisagens a trouxe a este solo ingrato e esquecido da sua Grandeza de outrora?
Que a sua poesia nos responda e que nos deixe ver a sua alma vibrante, escondida por hora entre as pedras e menires de Almendres, e o meu desejo é que, como uma iniciação, esta sua descida à sua sombra a possa resgatar de um passado que a mantém quiçá cativa (ainda) até que o pássaro da sua alma feminina lhe dê asas para voar em plena liberdade.
Rosa Leonor Pedro (excerto do prefácio)
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ainda que ao pó tornemos
é nos sonhos em água que principiamos
das mais líquidas emoções se erguem os gestos
ainda que a ossaria sobreviva
é no engenho, no adágio mínimo
da gota primeira
que, sem asas
nascemos ao sol
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Cristina Ohana brasileira radicada em Portugal, é poeta, ensaísta, dramaturga, filósofa e mística. é licenciada em Filosofia pela Universidade de Santa Catarina e doutoranda na Universidade de Évora. Publicou seu primeiro livro de poesia Senhor S em 1979. Regressa à publicação em 2012 com a obra Fausto com Rugas (pequeno romance filosófico) sob a chancela da editora brasileira Penalux, que em 2014 publica também a sua obra Pele dos Dias (prosa poética).
Já em Portugal com a Poética Edições, publica Grafia Canibal, ou de como deglutir Lobo Antunes. Em 2018 seu texto teatral Testamento Rosa é encenado pelo Grupo de Letras da Universidade de Lisboa. Já em 2019 vê publicado seu primeiro artigo científico na Revista Cadernos de Estudos Sefarditas, “A epistemologia de maimonides no Guia dos Perplexos”. Desde então publicou três ensaios na Revista Caliban: “Merleau-Ponty, genealogia da contaminação”, “Walter Benjamin, notas alegóricas” e “Necropolítica: do vírus instrumentalizado à emancipação cognitiva de Paul Preciado em Sopa de Wuhan”.
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Edição: junho de 2025 | ISBN: 978-989-9241-17-6 | Páginas: 42 | Encadernação: capa mole | Formato: 12cmx22cm