Disponível para envio a partir de 5 de fevereiro
*COM DESENHOS DE ANA CRISTINA DIAS
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Uma definição?
Sou coisa de difícil explicação.
Um gosto e um desgosto?
Talvez por ser trasmontana, possível porquê, gosto do Inverno, a lenha a crepitar na lareira, a água a apitar na chaleira, o chá a fumegar na chávena, o aconchego dos gatos, os cachecóis, os gorros.
E não, não gosto do Inverno, o frio, a chuva, os ossos, apesar de, na minha balança pesam toneladas, em bicos de pés fingindo leveza, irreprimíveis, saudades da neve e das amendoeiras em flor.
As saudades da neve afogo-as no mar e porque pesadas vão ao fundo num ápice, das amendoeiras levo-as a dançar com os jacarandás.
Viste?
Não, não vi.
Pois é!
Da música, o samba, o jazz, a ópera, o fado, a clássica, que o mesmo é dizer, a Elza, a Elis, a Holly Cole, a Callas, o Camané, o Bach, o Bomtempo, o Schubert, o Gershwin e sempre o meu Buarque e o meu Sabina.
Dos pássaros, andorinhas, gaivotas e corvos.
Da dança o flamenco e a Bausch.
Da arquitectura o Siza, o Corbusier, o Niemeyer, o Mies.
Da pintura a Rego, o Pomar, o Amadeo, o Manta, os impressionistas em que Caillebotte o preferido, e, no talento e no afecto, a Ana Cristina Dias.
Da fotografia o Capa, o Castello-Lopes, a Cunningham, o Gageiro, o Korda, só na secção a preto e branco.
Do cinema, os realizadores, os actores, tantos que vou dizer nome nenhum.
Dos livros, percebo que com o tempo construí uma geografia óbvia, os latinos, os mediterrânicos, os sul-americanos e a somar os russos.
Um desgosto, mousse de chocolate, gostava muito, deixei de gostar.
Um desgosto a sério, a morte do meu pai.
Raquel Serejo Martins (Trás-os-Montes, 1974), Economista, com pós-graduações em Direito Penal e em Direito Administrativo, vegetariana, dançava flamenco agora estuda violoncelo, tem três gatos, vive em Lisboa.
Todos os dias ouve uma canção do Sinatra, do Sabina ou do Buarque.
Todos os dias lê pelo menos um poema.
Tem em papel dois romances: A Solidão dos Inconstantes (2009) e Pretérito Perfeito (2013), seis livros de poesia: Aves de Incêndio (2016/ 2022), Subúrbios de Veneza (2017/2023), Os Invencíveis (2018), Plantas de Interior (2019), Silêncio Sálico (2020/2023) e Valsa a vau (2021), e duas peças de de teatro: Preferia estar em Filadélfia (2019) e A iguana viúva (2022). Com esta última obra venceu o Prémio Miguel Rovisco Novos Textos Teatrais 2021.
Já escreveu duas canções.
Ana Cristina Dias (alfacinha, 1967), licenciada em pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, ao longo dos últimos 10 anos participou em inúmeros eventos de arte, arte urbana, ilustração de livros.
Anda sempre com um estojo com lápis, um bloco de folhas lisas e uma máquina fotográfica, quase sempre à procura de pássaros.
Os seus dias são passados a desenhar ou a pintar acompanhada de música, de preferência as que lhe trazem à memória bons sentimentos, e de um pássaro que dorme aninhado nos seus cabelos e que lhe destrói os papéis e as pontas dos cabos dos pincéis.
O seu trabalho fala-nos sobretudo do imaginário infantil, esse universo fantástico onde as meninas e meninos têm cabeça de bichos, e da sua inquietação sobre desflorestação e a perda de habitats dos animais silvestres.
1ª. Edição: Outubro de 2017 | 2ª. Edição: Janeiro de 2023 | Páginas: 132 | Encadernação: capa mole | Formato: 12cmx22cm | ISBN: 978-989-9070-47-9