PRÉMIO LITERÁRIO BENTO DA CRUZ
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Sem querer aqui revelar a matéria central deste livro – e volto a dizer – singularíssimo e curiosíssimo, poderei adiantar que, em todo o caso, ela mergulha no mais profundo, naquilo que são as mais profundas raízes do planalto barrosão e parte de alguns concelhos vizinhos (…) indo mesmo a fontes históricas medievais, e a muitas outras fontes.
Este romance representa, além disso, um trabalho de investigação extraordinário sem que isso o transforme numa obra apenas destinada a eruditos. Longe disso. Pelo contrário, este é um livro muito aberto, muito à nossa vista, muito à mostra de toda a gente, já que, precisamente, os relatos que constituem o livro são testemunhos, pareceres, relatórios técnicos, actas, diplomas, documentos mesmo iconográficos, mapas, imagens, etc., todos eles ancorados numa realidade que é uma realidade concreta, humana, elaborada como um concerto, uma sinfonia, por vezes kafkiana, diria, graças à qual sentimos pulsar uma comunidade ao ritmo de vozes muito diferentes umas das outras, em registos muito diferentes – outra qualidade do livro é saber, consoante a natureza dos documentos, modificar o estilo em que eles são escritos –, vozes diferentes umas das outras, dizia, por vezes descompassadas, mas sempre no fio muito coerente da ideia mestra que sustenta a teia narrativa. (…)
Fernando Pinto do Amaral (presidente do júri do II Prémio Literário Bento da Cruz)
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No contínuo e persistente porfiar sobre a natureza em que se insere Cristelo, fui descobrindo elementos seus constituintes que, inicialmente, classifiquei de curiosos. E, depois, porque consegui relacionar uns com outros, passei a tê-los como intrigantes e insólitos. Ou mesmo assombrosos. E perseguiam-me como uma nebulosa, que suspeitava reveladora, ainda que não soubesse o que pudesse revelar-me. Até que conheci a obra do mestre Nadir Afonso, que me deslumbrou. (…) Numa das visitas que lhe fiz, aventurei-me a titubear-lhe algumas interrogações sobre a geometria, a estética e a harmonia da sua obra. Indulgente e compreensivo com a minha ignorância, enunciou-me algumas das suas teorias. (…) Foi então que a nebulosa que me embaraçava se dissipou. Tudo ficou evidente. Os vértices geodésicos que eu tinha assinalados, a situação geográfica do núcleo inicial de Cristelo, as posições e distâncias entre eles, por si só, não são geradores de nada. Assim como a minha atenção sobre tais elementos nada produziria, por mais que os observasse. Foram as leis evocadas por Nadir que me abriram os horizontes. E me encaminharam para o inevitável – a criação da obra.
(excerto)
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J. B. César é natural de Chaves e nasceu em 1955.
Foi o fundador e director da rádio Antena Radiante, do Jornal de Chaves e do Semanário Transmontano.
Como jornalista profissional, foi colaborador do Jornal de Notícias, do Comércio do Porto e do diário La Región, de Ourense (Galiza).
Em 2013 publicou o seu primeiro romance, intitulado “Claro que não, antes pelo contrário”.
Em 2018, com a presente obra, “Custa a verdade abdicar dos bifes”, foi o vencedor do Prémio Literário Bento da Cruz.
Edição: outubro de 2022 | Páginas: 268 | Encadernação: capa mole com badanas | Formato: 15cmx23cm | ISBN: 978-989-9070-36-3