"O luar remete-nos para a lua que se encontra sincronizada com a terra.
Desde a Antiguidade as fases da lua são uma importante referência cultural na arte e na mitologia. Mas lembro Alberto Caeiro: “O luar quando bate na relva não sei que coisa me lembra”, porque este livro da Rosário Ferreira Alves não tem como tema a lua nem o luar. Conduz-nos, sim, para um universo em que o olhar é portador de inúmeros sentidos, como se fossem múltiplos fios que se entrelaçam ao longo do livro. É que o luar, mesmo oculto que seja, trafica a luz com a noite, resgatando todas as vivências. […] Se me pedires o dia/ dar-te-ei o luar/ prata da noite na nascente/ do meu rio […] (p.14) anuncia a autora. Porque é durante a noite que despertam os mistérios, os segredos, a imaginação, e a lua faz incidir nas palavras algo que as transfigura. Por isso a poeta escreve e diz […] nenhuma angústia nos devolve a claridade/ de uma noite sem luar/ e as perguntas hão-de arder nos incêndios que inventamos/ para derreter o frio […] (p. 20). Pode dizer-se deste livro que tudo o que vamos ler é simultaneamente imaginação, sentimento e realidade."
Graça Pires
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