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"O livro Poemas Narrativos é um livro modesto, um pouco diferente dos anteriores, salvo nesse facto, que é o ser modesto. Não cria grandes rupturas e, desse ponto de vista, pode considerar-se clássico. Sem ser especialmente inovador nem modernista, não deixa de ser para mim um tanto experimental, na medida em que o sinto um pouco na fronteira entre o lírico e o narrativo. (...)"
Júlia Lello
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O meu Pai tinha óculos redondos de tartaruga,
Que hoje seriam indiscutivelmente vintage
E colocava-os para ler-me histórias
Com que sempre voltávamos a casa
depois de passear.
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Quando o recordo, está no seu cadeirão
Com os seus próprios livros e um charuto
Um copo de whisky, cheio de gelo
E água castelo até à borda,
Da qual deixava sempre um resto
Na garrafa pra mim.
Lembro os fatos de linho
E as camisas leves
De manga curta, de seda de Macau
Com que enfrentava os dias de calor africano.
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(excerto do poema "Dia do Pai")
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Júlia Lello é natural de Luanda, mas foi em Lisboa que realizou os seus estudos e que sempre trabalhou. Desde cedo revelou tendência para a poesia e outras artes, sendo em criança leitora compulsiva, hábito que mais tarde veio a moderar, alternando-o com outras formas de expressão, nomeadamente uma ligação intermitente às artes performativas e, paralelamente, um constante compromisso com o ensino, quer profissional quer voluntário. O seu primeiro livro, Alguns textos de amor, data de 1982, a que se seguiram a obras de poesia Textos de Privação (1984), Textos Pretextuais, (1991), Os vivos e os mortos (2012), Da feminina prudência (2022) e Quase todos os poemas (2022). Em 1994, lançou a peça de teatro o Concerto, incluindo a obra alguns poemas inéditos. A novela Amores de Príncipe, reeditada em 2024 pela Poética Edições, foi lançada em 1990, no emblemático Botequim, com apresentação de Natália Correia. Em 1996 saiu, numa edição da Escola Superior de Teatro e Cinema, o seu ensaio Virgínia Victorino e a vocação do Teatro. Está representada em antologias poéticas e outras de índole pedagógica literária ou teatral, bem como nalguma imprensa dispersa.
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Edição: Maio de 2025 | Páginas: 60 | Encadernação: capa mole | Formato: 12cmx22cm | ISBN: 978-989-9241-15-2